TEMPOral de Cores
Em “TEMPOral de Cores”, o fotógrafo Rafael Coelho, cujas referências embebem-se da arte contemporânea, principalmente no que se refere à antropologia visual, vale-se do documentarismo e constroi uma narrativa fotográfica que tem como cenário a tradicional Festa do Congo, realizada nos meses de junho e julho na cidade de Vila Bela da Santíssima Trindade, primeira capital do Estado do Mato Grosso.
Num mundo que pede pressa, em que homem e tecnologia se fundem numa perseguição por constante atualização, sob a égide de realidades virtuais artificialmente produzidas, esta projeto pretende uma pausa, um respiro, um fôlego, uma reflexão: “Em nenhum lugar existe tempo algum”, sentencia Mário Peixoto.
Na mostra, somos então direcionados ao que é de fato visível, real, atemporal: o ritual – e tudo e todos que o envolvem – capturado com sensibilidade por imagens em que cores e ritmos se convergem. Nos retratos, a suavidade da iluminação natural contrasta com as fortes expressões e revelam a beleza e a resistência dos seus protagonistas, descendentes, em sua maioria, de escravos abandonados quando da transferência da capital para Cuiabá, em 1835.
Negros e marginalizados, fizeram de sua condição verdadeiras bandeiras simbólicas frente à massificação e à banalização de costumes e hábitos. Esta exposição nos toca justamente no sentido da permanência, da preservação do original; não como algo exótico, mas como essencial para a construção da ideia de identidade, de pertencimento, de comunidade, de nação: seja ela local, regional ou brasileira.
Belezas (in)visíveis
A diversidade dos cenários – dos registros de uma natureza intocada, aos flagrantes de um patrimônio material em degradação –, retratados por meio de um jogo de luzes, cores e sombras, revela a intenção do fotógrafo Rafael Coelho com a mostra “Cáceres de ruínas belezas”: expor os dilemas e contradições de uma cidade ao lidar com a preservação e aproveitamento de suas riquezas do seu acervo, sejam naturais ou arquitetônicas
De um lado, temos fauna e flora aparentemente intocadas do pantanal matogrossense, exploradas em cores intensas; de outro, ambientes órfãos de luz evidenciando o abandono da maioria dos prédios históricos e seculares do município. Há ainda ângulos, recortes, volumes que instigam a memória e mostram entre linhas, texturas e desenhos geométricos a potência poética dos seus cenários urbanos.
Nos retratos, protagonistas de uma viva e rica cultura, com destaque para o artesão da viola de cocho, instrumento típico do centro-oeste brasileiro. Cada um desses elementos – vegetações, escombros, pessoas – carrega, por si só, uma peculiar beleza. Neste ensaio, estão todos reunidos, retidos pela fotografia para que, assim, protegidos, permaneçam permanentemente belos.
E assim convidamos você a degustar e se enriquecer um pouco com essas imagens que a pressa do dia a dia ou a desvalorização do que nos cerca acabam por deixar invisíveis, tornando-nos “pequenos porque nos tiram o que nossos olhos nos podem dar, e tornam-nos pobre porque a nossa única riqueza é ver”, como diria Fernando Pessoa.